07/10/2009

Pessimismo em notas

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Dedos alvos enlaçavam o papel, absorvendo da tinta a ladainha em si. Seus rabiscos fizeram pó do acúmulo intenso nas pontas dos dedos, um sentimento espesso esperando para ser extraviado ao dar suas cores às palavras vis. Seus devaneios trouxeram o dedilhado de melodias sublimes, mas os dedos que musicavam a sublimidade não eram os meus, assim como o corpo petrificado em beleza adônica não me pertencia. Mas não importa, pois este ser restitui-me a voz perdida, preenche-me o vazio; preenche-me de agonia! Faz-me ansiar. Larga: afasta essa eloqüência que me destrói o íntimo quando me abraça de lado, já querendo sair. Pára de encobrir-me a alma só porque teu compasso provém do meu coração. Pára de tocar-me o âmago, pára de me fazer almejar sentir o gosto do que toca as cordas, do que encanta tanto. Eu quero.

06/10/2009

Ode ao secreto

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Guardo-te em mim no âmago.
Guardo-te em mim,

segredo sublime,

como íntimo e lhano;

ostentando-te,

secreto,

incerto.

Pois que, assim, não estou bem.

Mas se não houver de ser você,

não há de ser ninguém.

E isso me mantém.

07/09/2009

Au Clair de la Lune

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We all deserve something.
If you knew that I was dying...
Would it change you?

A alvura do cômodo combinava perfeitamente com a candura do tenro menino, que se prostrava em meio aos lençóis brancos e à monotonia enfadonha com uma única companhia, de porcelana. A boneca – um típico pierrô francês, — parecia mirá-lo, e o frágil pequeno mantinha-se absorto ao encará-la, que lhe parecia tão frágil quanto o próprio.

Os olhos, de oliva inexpressiva, estudavam a imagem à sua frente. No rosto triste, uma típica lágrima estava pintada na porcelana, enquanto, por entre os traços tênues do infante, escorria uma gota de vida.

E então, ele chorava; gotículas de seu sofrimento dissipando-se no alvor da roupa de cama.

Era possível tiritar naquele espaço amplo e branco, a atmosfera que rodeava o infante sempre cálida. Sua presença em si lançava labaredas de vitalidade, plantando sorrisos nos rostos de outrem. Em compensação, para a consternação dos mesmos, o sorriso não demorou em apagar-se de seu rosto, os olhos fechando-se. Janela entreaberta. Corrente de ar. O frio adentrava o local, uma sonoridade cortando o silêncio um dia confortante do quarto.


[...]


Era para ser um conto, mas algo sempre me impede de escrevê-lo assim.

05/09/2009

Pull out the pin

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O ponto de fuga para a minha decepção é a essência tão, tão humana. Seu rosto alcança a superfície e expõe a verdade: tão pura, genuína, composta de imagens decrépitas que profanam a imagem toda feita de luz. Sempre houvera algo de voluptuoso e irresistível na ignorância, que manteve a minha razão seduzida por tempo demais para a minha saúde mental. Agora que a superfície fora alcançada e o ar adentra meus pulmões, queimando como na primeira vez em que o ato fora feito, eu enxergo além de sorrisos: mente estreita e rasa; adentrá-la é inútil e se perder é insanidade. Nesse exato momento, amo a distância como nunca amei o ínfimo ser e prefiro ficar à deriva do que abraçar um acolher tão sonso. Pode ser um devaneio, mas o que se exprime em meio às palavras flutuando por sob o veneno é sincero. Se a carapuça servir... Agarre-a, utilize-a para se sufocar. E morra sem me assistir insana, exaurida e acataléptica de ódio! Não haverão informações póstumas sobre isso.