27/07/2010

Melancolia

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Se tem uma coisa que eu venho aprendendo com o tempo, é que haverá sempre um "over" na palavra "lovers", assim como um "lie" na palavra "believe". E sendo assim, enquanto houver um "us" em "trust", haverá sempre, sempre um "if" em "life". Então, eu me acho no direito de tentar ao menos acreditar que o "good" de "goodbye" pode mesmo ser verdade...



Afinal, "adeus" só pode ter algo de bom num idioma em que não exista a palavra "saudade".


(Mesmo que, às vezes, o "adeus" seja o único jeito.)

Metalinguagem sem propósito

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Barco sem porto / Sem rumo, sem vela / Cavalo sem sela / 
Bicho solto / Um cão sem dono / Um menino, um bandido / 
Às vezes me preservo / Noutras, suicido!  
Flor da Pele
- Zeca Baleiro

Viajar sem mim / Me deixar assim /
Tive que arranjar alguém pra passar os dias ruins /
Enquanto isso / Navegando, vou sem paz /
Sem ter um porto / Quase morto, sem um cais...
Veja Bem, Meu Bem - Los Hermanos

Post sem pretensão literária, encomendado por Manuella.
Que agora fique explícito: o barco, mesmo sem porto, partiu de algum lugar...

16/07/2010

Engodo

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engodar | v. tr.
1. Atrair com engodo.
2. Enganar ardilosamente.
E desse engodo
eu vi luzir,
de longe, o teu farol.
Minha ilha perdida é aí...
O meu pôr-do-sol.

Minha liberdade, visceral, por ele é tida como um mal;
para mim, é uma desconhecida: uma estranha normal.
Mas se eu digo [a ele] o que digo deve ser por hábito,
e se digo que amo é por um ledo engano [dele].
É que esse seu falso amor é uma cela e nela,
no meio desse nó eu vi, luzindo, outro farol.
Encontrei um outro alguém para chamar de pôr-do-sol.

27/06/2010

Uma dança para duas pessoas tristes.

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Ela queria uma pausa que durasse vários compassos.
Ele a ouviu; parou e aguardou. Daí ela sorriu,
pois sabia que ainda havia um som - seu coração.
E aí, então, ele lhe ofereceu a mão.
Segue a valsa. Até parar de bater...

"Ode à cumplicidade de um amor perpétuo
e íntimo. Era um segredo dela. Só dela."

03/01/2010

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Seu sistema nervoso fora meticulosamente cultivado por algumas gotas de vodka, o suficiente para entorpecer defeitos em primeiro plano. Não era apenas sua garganta que queimava ou suas têmporas que eram alfinetadas, mas sim seu coração que conquistava o já citado primeiro plano – pouco a pouco, dissimulando minúcias para causar um arrependimento espesso mais tarde. Via-se agora em um ritual de segurar a garrafa perto de si apenas pelo sentimento de ter algo nas mãos. Assim, talvez, pudesse aquietar a angústia de se ver nas mãos de outro. Impotente, ser pequeno, objeto manuseado sem cuidado; sentia-se assim. Suas mãos circundavam a garrafa, girando-a enquanto uma risada nervosa preenchia o ar. Sentava-se agora. Era o mais indicado, pois se não fosse o álcool a lhe derrubar, seriam as palavras ditas que lhe tirariam o chão. Tentava sorrir por não saber o que fazer, mas a palpitação vinha como ondas quentes de tristeza, que baqueavam continuamente seu interior. Havia, enfim, roubado o valor daquele momento. Havia feito dele um refém, desejava trocá-lo por mais tempo para pensar – pensar em quê? Perguntava-se se algum dia ater-se-ia a algo inocente sem deixar suas marcas nele. Era o que fazia agora com um sentimento lhano, cravando suas unhas para segurá-lo. Não sabia mantê-lo sem agarrá-lo. Quão profano. Era tudo tão triste... E não saberia como ajeitar tudo mais tarde. Prendia-se nessa bulimia sentimental, onde as palavras lhe escapavam os lábios como a conseqüência de todo o álcool. Mas por que estragar esse momento de forma tão fácil? – Você bebeu. Continuou sorrindo, era tudo tão bonito. Era tudo tão triste. Um ano novo havia se aproximado da janela para ser educado e cumprimentar a todos. Congratulou-se, o planeta reiniciava sua trajetória em volta do sol e havia uma nova chance de recomeçar sua trajetória para dentro dos seus sentimentos. Quem acreditaria, pois, nas declarações de um dipsomaníaco traiçoeiro? Havia de arcar com as conseqüências de optar por uma máscara tão superficial. Desaxiomatizara seu amor com as primeiras gotas de álcool e lembrar-se-ia daquele instante como ninguém. As palavras dançaram por seus lábios enquanto colocava tudo em palavras, declarando-se de forma límpida. Abraçou a decepção. “Se essa lua fosse minha / ninguém chegava perto dela...” Mas a lua não era sua. Em vão, em vão... O álcool, ao menos, estava em suas mãos.

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"Baseado em fatos reais."